O modo dos Espíritos

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Espíritos têm modos de ser que nos são desconhecidos; o que está fora da matéria não pode ser submetido ao cadinho da matéria. É, pois, equivocar-se julgá-los do nosso ponto de vista. Se acharem ítil manifestar-se por sinais particulares, eles o farão; mas jamaisà nossa vontade, nem para satisfazerà vã curiosidade. Além disso, é preciso levar em conta uma causa bem conhecida, que afasta os Espíritos: sua antipatia por certas pessoas, principalmente por aquelas que, fazendo perguntas sobre coisas conhecidas, querem pôrà prova sua perspicácia.

Quando uma coisa existe, pensam, eles devem saber; ora, é precisamente porque a coisa vos é conhecida, ou porque tendes os meios de verificá-la, que eles não se dão ao trabalho de responder; essa desconfiança os irrita e nada se obtém de satisfatório; afasta sempre os Espíritos sérios, que ordinariamente não falam senãoàs pessoas que se lhes dirigem com confiança e sem pensamento preconcebido. Entre nós não temos exemplo disso todos os dias? Homens superiores, conscientes de seu valor, alegrar-se-iam em responder a todas as perguntas ingênuas que visassem submetê-los a um exame, tal como se fossem escolares? Que fariam se lhes dissessem: Mas, se não respondeis, é porque não sabeis?  Voltariam as costas; é o que fazem os Espíritos.

Se é assim, direis, de qual meio dispomos para nos convencer? No próprio interesse da Doutrina dos Espíritos, não é desejável fazer prosélitos? Responderemos que é ter bastante orgulho quem se julga indispensável ao sucesso de uma causa; ora, os Espíritos não gostam dos orgulhosos. Convencem quem eles querem; quanto aos que crêem em sua importância pessoal, demonstram o pouco caso que disso fazem não lhes dando ouvidos.

Eis, de resto, a resposta que deram a duas perguntas sobre esse assunto: Pode-se pedir aos Espíritos sinais materiais como prova de sua existência e de seu poder? Resp. Pode-se, sem dívida, provocar certas manifestações, mas nem todos estão aptos a isso e frequentemente não obtendes o que pedis; eles não se submetem aos caprichos dos homens. 

Porém, quando alguém pede esses sinais para se convencer, não haveria utilidade em satisfazê-lo, pois que seria um adepto a mais? Resposta: Os Espíritos não fazem senão o que querem, e o que lhes é permitido; falando e respondendoàs vossas perguntas, atestam a sua presença; isto deve bastar ao homem sério que busca a verdade na palavra .

Escribas e fariseus disseram a Jesus: Mestre, muito gostaríamos que nos fizésseis ver algum prodígio. Respondeu Jesus: Esta geração má e adíltera pede um prodígio, mas não lhe será dado outro senão o de Jonas . (São Mateus.) Acrescentaremos ainda que é conhecer bem pouco a natureza e a causa das manifestações espíritas quem acredita provocá-las por uma recompensa qualquer.

Os Espíritos desprezam a cupidez, tanto quanto o orgulho e o egoísmo. E só essa condição pode ser para eles um motivo de se absterem de manifestar-se. Sabei, pois, que obtereis cem vezes mais de um médium desinteressado do que daquele que é movido pelo incentivo do lucro, e que um milhão não lhe faria realizar o que não deve ser feito. Se uma coisa nos surpreende, é que haja médiuns capazes de se submeterem a uma prova que tinha por aposta uma soma de dinheiro.

Allan Kardec 1858.

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