BEM-AVENTURADOS OS MISERICORDIOSOS… – Rodolfo Calligaris – O Sermão da Montanha 5/5 (1)

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Ser misericordioso é compadecer-nos da miséria alheia.
Seja da

miséria material, nas formas da indigência, do abandono ou da

enfermidade, seja da miséria espiritual, caracterizada pelas mil e

uma facetas da imperfeição humana.

Ser misericordioso é, pois, condoer-nos desses párias

molambentos, sem eira nem beira, que se arrastam pelo mundo,

suplicando uma côdea de pão para “encostar” o estômago ou um

trapo usado com que cubram sua nudez, socorrendo-os com

solicitude.

É apiedar-nos das crianças órfãs ou abandonadas, interessandonos

pela sua sorte e contribuindo, como e quanto nos seja possível,

para que tenham um lar que as eduque e prepare para serem úteis

a si mesmas e à sociedade, assim como olharmos pelos velhinhos

desamparados, oferecendo-lhes um abrigo onde possam aguardar,

serenamente, que a morte venha libertá-los das vicissitudes

terrenas.

É sensibilizar-nos à vista desses desgraçados aos quais a lepra,

o pênfigo, o câncer, a sífilis, a tuberculose etc.
, hão flagelado e

reduzido à ruína, cujas existências se constituem numa sucessão

ininterrupta de dores, angústias e melancolia, ajudando a minorálas

com os recursos de nossa bolsa e, melhor ainda, com o bálsamo

de nossa simpatia, das palavras de conforto e encorajamento, das

preces e vibrações que façamos em seu benefício.

Ser misericordioso é, acima de tudo, suportarmos cristãmente

os defeitos daqueles que nos rodeiam, relevarmos os agravos que

nos façam, renunciarmos a todo e qualquer propósito de vingança,

não guardarmos ressentimento de coisa alguma e estarmos sempre

prontos a servir, seja lá a quem for, embora saibamos de antemão

que ninguém nos será grato e talvez nem sequer nos compreenda

o gesto fraternal e amigo.

Jesus Cristo considera bem-aventurados os que usam de

misericórdia, porque, segundo a Lei, “cada um recebe exatamente

o que dá”.

Espíritos insipientes que somos, ainda no começo de nossa

evolução, estamos, por isso mesmo, muito sujeitos ao erro.

Destarte, se não formos solidários com os que passam por duras

provas e expiações, nem formos tolerantes com as fraquezas e

imperfeições do próximo, também não teremos quem nos ajude a

vencer os obstáculos de nossa jornada, assim como nossas

próprias culpas e mazelas não serão toleradas pela Justiça Divina;

e isso não por “castigo”, mas para que todos aprendamos a regra

áurea, habituando-nos a “fazer aos outros aquilo que gostaríamos

que nos fizessem”.

Ninguém se iluda a esse respeito, supondo que um

arrependimento de última hora, ou os recursos oferecidos pela sua

religião, sejam suficientes para granjear-lhe a graça de Deus e

assegurar-lhe “um bom lugar” nas moradas celestiais.

Através do Pai Nosso, suplicamos diariamente ao Altíssimo

que “perdoe as nossas ofensas, assim como perdoamos aos nossos

ofensores”.

Pois bem: valorizemos nossas orações, traduzindo em atos tão

sublimes palavras, perdoando, de fato, àqueles que de alguma

forma nos tenham ofendido ou prejudicado.

Levemos-lhe, simultaneamente com o nosso perdão, completo

e sincero, também o amor, esse sentimento puríssimo que “cobre

a multidão dos pecados”; só assim, mas só assim, inscrever-nosemos

entre aqueles a quem Jesus se referia, ao sentenciar: “Bemaventurados

os misericordiosos, porque eles alcançarão

misericórdia”.
(Mateus, 5:7.
)

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