A arte de resolver conflitos – Redação do Momento Espírita 5/5 (2)

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O trem atravessava, sacolejando, os subúrbios de Tóquio, numa modorrenta tarde de primavera.

Chegando a uma estação, as portas se abriram e a quietude foi rompida por um homem que entrou gritando, com violência, palavras sem nexo.

Era um homem forte.
Estava bêbado e imundo.

Cambaleando, empurrou uma mulher que carregava um bebê ao colo e ela caiu sobre uma poltrona vazia.
Felizmente nada aconteceu ao bebê.

Demonstrando toda sua fúria, agarrou a haste de metal no meio do vagão e tentou arrancá-la.
Dava para ver que uma das suas mãos estava ferida e sangrava.

O trem seguiu em frente, com os passageiros paralisados de medo.

Um jovem lutador de aikido, em excelente forma física, resolveu agir porque considerou que havia pessoas em perigo.

Em seu treinamento, ele aprendera que não deveria lutar, porque aquele cuja mente deseja brigar perdeu o elo com o Universo.

Mas, no fundo do coração, ele desejava uma oportunidade legítima em que pudesse testar suas habilidades marciais, salvar os inocentes, destruir os culpados.

Levantou-se e foi na direção do homem furioso, que logo percebeu a chance de canalizar a sua ira.

Você vai levar uma lição – esbravejou o perturbado passageiro.
E se preparou para atacar.

Mas, antes que pudesse se mexer, alguém deu um grito: Ei!

O jovem e o bêbado olharam para um velhinho japonês, sentado em um dos bancos.

Devia ter mais de setenta anos.
Sorriu e, como se tivesse um importante segredo para contar, convidou:

Venha aqui.
Venha conversar comigo.

O homenzarrão obedeceu, mas perguntou com aspereza: Por que devo conversar com você?

O velhinho continuou sorrindo.
O que você andou bebendo? – perguntou, com olhar interessado.

Não é da sua conta! – rosnou o embriagado.

Com muita ternura, o velhinho começou a falar da sua vida, do afeto que sentia pela esposa, das tardes em que sentavam num velho banco de madeira, no jardim, um ao lado do outro.

Ficamos olhando o pôr do sol e vendo como está crescendo o nosso caquizeiro, comentou.

Pouco a pouco o criador do tumulto foi relaxando e disse: É, é bom.
Eu também gosto de caqui.
.
.

São deliciosos, concordou o velho, sorrindo.
E tenho certeza de que você também tem uma ótima esposa.

Não, falou o operário.
Minha esposa morreu.

Suavemente, acompanhando o balanço do trem, aquele homenzarrão começou a chorar.

Eu não tenho esposa, não tenho casa, não tenho emprego.
Eu só tenho vergonha de mim mesmo.

Lágrimas escorriam pelo seu rosto.

O jovem lutador ficou ali, ouvindo e assistindo àquela cena inusitada.

O trem chegou à outra estação e ele desceu.
Voltou-se para dar uma última olhada.
O homem furioso estava deitado no banco, com a cabeça no colo do velhinho, que afagava seus cabelos emaranhados e suarentos.

Enquanto o trem se afastava, o jovem ficou meditando.
.
.
O que pretendia resolver pela força foi alcançado com algumas palavras meigas.

Nesse dia, ele aprendeu, através de uma lição viva, a arte de resolver conflitos.

Redação do Momento Espírita, com base em conto do

livro Histórias da alma, histórias do coração, de

Christina Feldman e Jack Kornfield, ed.
Pioneira.

Disponível no livro Momento Espírita, v.
3, ed.
FEP.

Em 20.
7.
2022

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