Escribas e fariseus eram criaturas extremamente zelosas dos
ritos, cerimônias e observâncias instituídas pelo rabinismo
judaico.
Cumpriam à risca essas exigências secundárias da lei, a
que emprestavam grande valor, e, porque Jesus e seus discípulos
não lhes davam a mesma consideração e respeito, não se
cansavam de censurá-los, apontando-os à execração do povo.
A religiosidade deles, entretanto, não ia além dessas práticas
exteriores.
Orgulhosos de pertencerem a uma raça (supostamente)
favorecida por Deus, egoístas e duros de coração, não tinham a
menor piedade para com os estrangeiros, e em tudo buscavam tão
só e unicamente o benefício pessoal.
Não foram capazes, por isso, de suportar a doutrina trazida pelo
Cristo, toda ela calcada na humildade, na tolerância e no amor
universais e, após perseguições sem conta, acabaram pregando-o
no madeiro infamante.
Por lhes conhecer a hipocrisia, os simulacros de virtude, é que
o Mestre, ao iniciar sua interpretação da Lei e dos profetas, no
maravilhoso Sermão da Montanha, foi logo advertindo os que
estavam a ouvi-lo: “Se a vossa justiça não exceder a dos escribas
e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos Céus”.
(Mateus, 5:20.
)
Com essas palavras, queria frisar que a justiça perfeita, sem a
qual ninguém será admitido nos altos planos da espiritualidade,
consiste em “amarmos o próximo tanto quanto a nós mesmos”,
mas isso incondicionalmente, sem cogitar de suas falhas, de sua
nacionalidade, de sua raça, nem de seu credo religioso, como Ele
soube querer bem a todos, até mesmo àqueles que, por invencível
ignorância, tornaram-se seus inimigos encarniçados.
Sim, porque amar apenas os bons, os compatrícios, os de nossa
cor ou os que comungam de nossa fé, com exclusão dos demais, é
fazer distinção entre os filhos de Deus, é faltar com a caridade, e,
pois, descumprir a Lei.
Isso posto, se você, caro leitor, se diz católico, ou evangélico,
ou espírita etc.
, mas não ama o seu próximo, isto é, não o socorre
em suas necessidades, não o assiste em suas aflições, nem procura
amenizar-lhe as dores; se você nega também o seu óbolo a esta ou
àquela instituição de assistência social, simplesmente porque os
que lhe dirigem os destinos rezam por uma cartilha diferente da
sua; se você age assim, meu amigo, ainda que louvado no que lhe
digam os mentores de sua Igreja, você poderá ser um católico
fervoroso, um evangélico extremado, ou um espírita convicto,
mas não será verdadeiramente um CRISTÃO, porque só é digno
desse nome aquele que, a exemplo do Cristo, já se tornou capaz
de oferecer a todos, indistintamente, as suas mãos amigas, a sua
palavra consoladora e o seu coração estuante de amor.
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