“Tendes ouvido o que foi dito: amarás o teu próximo, e
aborrecerás teu inimigo.
Mas Eu vos digo: Amai vossos inimigos,
fazei bem aos que vos têm ódio e orai pelos que vos perseguem e
caluniam, para serdes filhos de vosso Pai, que está nos Céus, o
qual faz nascer o seu Sol sobre bons e maus, e vir chuva sobre
justos e injustos.
Porque, se vós amais apenas os que vos amam,
que recompensa haveis de ter? Não fazem os publicanos também
o mesmo? E se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis
nisso de especial? Não fazem também assim os gentios?”
(Mateus, 5:43 a 47.
)
Essas máximas de Jesus têm sido interpretadas por uns como
rematada estultícia e por outros como uma norma ética sublime
demais para que possa ser praticada pelos homens.
De fato, se já nos custa tanto amar os nossos amigos, se é com
sacrifício que renunciamos a alguma satisfação ou vantagem
pessoal em favor deles, como amar os inimigos e onde encontrar
forças para retribuir o mal pelo bem, orando pelos que nos
perseguem e caluniam?
Para muitos, perdoar aos inimigos fora uma fraqueza ou mesmo
covardia indigna de si.
O desejo de vingança é como um bálsamo
aos seus sentimentos ofendidos, e, quando não conseguem realizálo,
guardam um ressentimento que lhes perturba a existência toda.
O máximo que outros concedem aos seus inimigos, aos quais
“não querem ver mais, nem pintados de ouro”, é o esquecimento
dos agravos recebidos.
Quase sempre, porém, esse
“esquecimento” é apenas aparente, pois, ao saberem-nos vítimas
de qualquer infelicidade, gozam com isso e até comentam: “Bem
feito! Receberam o que mereciam”.
Assim, aquelas recomendações do Mestre parecem realmente
absurdas e inexequíveis; no entanto, encerram profundíssima
ciência e constituem-se a mais alta filosofia prática da vida.
Como se sabe, e aí estão os psicólogos, psiquiatras e
psicoterapeutas para confirma-lo, a cólera, a malquerença, o ódio,
o rancor e os pensamentos de vingança são forças negativas que
destroçam o equilíbrio mental, espiritual e até mesmo físico de
quem as alimenta, mandando para o cemitério, diariamente,
milhares de pessoas, fornecendo grande percentagem de clientes
para manicômios, hospitais de doenças nervosas etc.
, e
transformando inúmeros lares em verdadeiros infernos.
Quem alimenta ódio contra os inimigos e procura pagar-lhes
mal com mal, inflige a si mesmo, com essa atitude, danos sempre
maiores do que lhes pode causar.
À semelhança da bola de borracha, que, atirada violentamente
contra um obstáculo qualquer, volta sobre aquele que a atirou, o
ódio, sendo também um processo essencialmente reflexivo,
sempre reflui contra o odiento.
Com a diferença que, no caso da
bola de borracha, a intensidade do retorno é sempre igual ao
impacto, ao passo que a força do ódio, ao atingir a pessoa visada,
ferindo-a ou mesmo matando-lhe o corpo físico, repercute no
odiento de forma ainda mais desastrosa.
Destrói-lhe a integridade
moral, tornando-o passível de terríveis obsessões, e isso sem
prejuízo da reparação que lhe será exigida pelas Leis do Carma,
as quais lhe imporão, nesta ou em futuras existências, sofrimentos
equivalentes aos que haja provocado.
Embora a muitos custe crer, as enfermidades de mau caráter
que tanto nos martirizam, fazendo-nos conhecer dores
lancinantes, angústias e aflições, são decorrentes de crimes
perpetrados no passado contra o nosso próximo, a quem não
soubemos amar ou não quisemos perdoar; são amargas
consequências de nossa falta de vigilância, de nossa rendição às
sugestões do ódio arrasador.
Tratemos, pois, de aprender essa preciosa lição do sábio
Mestre, esforçando-nos por ver, naqueles que agem mal para
conosco, não “inimigos” aos quais devemos esmagar ou eliminar,
mas sim infelizes analfabetos espirituais que ainda “não sabem o
que fazem” e, por isso mesmo, mais se recomendam à nossa
piedade e às nossas orações.
A grande vantagem de não devolvermos as pedras que nos
sejam atiradas pelos nossos desafetos está em que os
despojaremos de suas armas, frustrando-lhes novos ataques, além
de granjearmos a simpatia das criaturas de bem e atrairmos, para
nós e a nossa casa, bênçãos a mancheias.
Se, além de não revidarmos os que nos malqueiram e nos
ofendam, formos capazes de tratá-los fraternalmente, procurando
conquistá-los com bondade, de sorte que se tornem nossos
amigos, então.
.
.
agora e aqui mesmo, teremos ganho “o Reino dos
Céus”, porque a paz e a alegria permanecerão para sempre em
nossos corações!