“Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial”,
recomendou-nos Jesus.
(Mateus, 5:48.
)
A exemplo das crianças, porém, que só dão valor aos seus
brinquedos e levam a vida entre folguedos e sonhos pueris, sem se
aperceberem das sérias responsabilidades e dos graves problemas
que os adultos devem enfrentar e resolver, grande parte da
Humanidade também se comporta, à frente dos objetivos da vida
neste plano evolutivo, com uma inconsciência e uma leviandade
simplesmente deploráveis.
Fazendo das riquezas o alvo supremo de suas atividades,
porque são elas que lhe abrem as portas do mundanismo e lhe
propiciam toda a sorte de comprazimentos, engolfa-se numa
desgraçada apatia moral, numa abjeta materialidade, sem
idealismo, sem nobreza, como se a existência terrena não tivesse
uma finalidade útil e após ela nada mais subsistisse.
Em seu desvario, cada qual cuida apenas de salvar as
aparências, de evitar escândalo, procurando ocultar ou disfarçar
habilmente seus erros e defeitos, para ser tido por pessoa de bem,
para que a sociedade forme dele um bom conceito, e, satisfeito
com isso, assim atravessa toda a existência, mascarado,
aparentando o que não é.
Este mundo, todavia, não é estância de descanso, de “dolce far
niente”, nem lugar de divertimentos inúteis, mas sim oficina de
trabalho, de estudo e de realizações, onde nos cumpre burilar
nossas almas.
Quando, pois, finda nossa romagem terrena,
voltamos à pátria da verdade, é com enorme tristeza que
lamentamos o tempo perdido e não menor desilusão que nos
contemplamos tal qual somos na realidade, constatando,
horrorizados, o quanto fomos hipócritas para com nós mesmos.
Sim, post mortem, é-nos dado observar, com as emoções e
sentimentos correspondentes, cada incidente de nossa vida
passada, em que nossa preguiça, nossas mentiras, nossos vícios,
paixões e desejos grosseiros retratam-se com absoluta fidelidade,
em que todas as nossas fraquezas de caráter e todas as nossas más
ações voltam a ser vividas de novo.
Então, para vergonha nossa,
verificamos não ter avançado espiritualmente um passo sequer,
tornando-se necessárias novas reencarnações de provas e de
expiações, até que realizemos o aprendizado relativo a este
mundo, condição indispensável a que passemos a outro, superior
e mais feliz.
Contribuem de forma ponderável para essa estagnação
espiritual da Humanidade certos princípios religiosos por ela
aceitos de longa data e sob cuja influência foi modelado o estilo
de vida que aí está.
É evidente ao observador mais superficial que, na juventude e
na maturidade, a coletividade humana pouco se preocupa com
religião e até zomba daqueles que se mostram escrupulosos no
cumprimento de seus deveres.
A razão disso está na crença nela inculcada de que
determinados sacramentos são de tal modo eficazes, possuem tão
extraordinários poderes que, mesmo as criaturas mais corruptas e
perversas, em os recebendo, ficam livres de seus pecados e
tornam-se instantaneamente puras, imaculadas e em condições de
ingressar imediatamente no Reino dos Céus.
Ora, isso é uma pechincha.
E, como ninguém gosta de passar
por tolo, tratam todos de “gozar a vida”, como dizem, deixando os
problemas da alma para depois, para quando ficarem velhinhos.
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Em que pese, porém, a “boa-fé” (?) dos que assim acreditam, é
totalmente inútil supor seja possível alcançar o Céu de mão
beijada, quando não se fez outra coisa senão agir em
contraposição às Leis de Deus.
Pretender isso é o mesmo que
desejar auferir juros de um capital que se não depositou.
As Leis Divinas são sábias, justas, inderrogáveis, e não há nada
nem ninguém que as possa burlar ou anular os seus efeitos.
O Reino de Deus, ou o Reino do Céu, está dentro de nós
mesmos, é um estado de felicidade proporcional ao grau de
perfeição adquirida, e não há outro meio de consegui-lo senão
praticando o bem, porque só o altruísmo purifica, melhora e
aperfeiçoa as almas.