QUANDO ORARDES… – Rodolfo Calligaris – O Sermão da Montanha 5/5 (1)

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“Quando orardes, não deveis ser como os hipócritas, que

gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das ruas, para

serem vistos dos homens: em verdade vos digo, que eles já

receberam a sua recompensa.

Quando quiserdes orar, entrai em vosso aposento e, fechada a

porta, orai a vosso Pai em secreto; e Ele, que vê o que se passa

em secreto, vos dará a paga.

E, orando, não faleis muito como os gentios; pois cuidam que

pelo seu muito falar serão ouvidos.

Não queirais, portanto, parecer-vos com eles; porque vosso

Pai sabe o que vos é necessário, antes que vos lho peçais.


(Mateus, 6:5 a 8.
)

Os fariseus, tantas vezes censurados por Jesus por causa da

hipocrisia que lhes caracterizava as ações, até quando oravam,

deixavam transparecer essa terrível falha moral.

Tinham horas certas para isso e, em chegando os momentos

determinados, quer estivessem no templo, quer se encontrassem

num logradouro público, recitavam, em altas vozes, suas orações,

evidentemente mais para exaltação própria, para se fazerem passar

por piedosos, do que para glorificarem a Deus, e daí a razão pela

qual afirmou Jesus que, com tal prática, já estavam

recompensados.

Ensinando-nos: “quando quiserdes orar, entrai em vosso

aposento e, fechada a porta, orai a vosso Pai em secreto, e Ele

vos dará a paga”, o Mestre deixa claro que a oração, para ser

ouvida por Deus, precisa revestir-se de fervor e sinceridade, e,

pois, deve ser feita em estado de alma todo especial, sem que

olhares e ouvidos curiosos nos constranjam ou inibam.

Jesus mesmo, quando queria entrar em comunhão com o Pai,

buscava os lugares ermos, longe do burburinho das cidades, e ali,

em silêncio, fazia as suas preces.

Não queremos, absolutamente, negar valimento às preces

coletivas que se fazem nos templos de todas as organizações

religiosas, desde que haja recolhimento e os presentes se

associem, de coração, ao mesmo objetivo, porquanto o Mestre

também orava em companhia de seus discípulos.

O que desejamos frisar é que em locais onde se aglomerem

muitas pessoas, onde os mais variados estímulos externos

impeçam uma boa concentração, impossível se torna

estabelecermos um colóquio íntimo, absorvente, com o Pai

celestial, e só nestas condições, livres de qualquer perturbação, é

que poderemos abrir-lhe nossa alma, segredar-lhe nossas misérias,

falar-lhe de nossas necessidades e pedir-lhe que nos auxilie, como

o faríamos em conversa particular com um amigo dileto e

merecedor de nossa inteira confiança.

Importa reconhecermos, também, que as preces feitas

maquinalmente, apenas de lábios, enquanto o pensamento

vagueia, assim como as orações em língua estrangeira, que não

entendamos, e, por conseguinte, não nos sensibilizem nem nos

edifiquem, pouco ou quase nada valem, por lhes faltar aquele

cunho de fervor e sinceridade a que anteriormente nos referimos.

De acordo, ainda, com o texto evangélico em epígrafe,

tampouco é a repetição mais ou menos prolongada de certas

orações que nos granjeará as bênçãos celestiais.

Para Deus, que é onisciente e sabe o que necessitamos, antes

de lhe pedirmos, tem mais significação o apelo inarticulado de

uma alma aflita, o quebrantamento mudo de um coração tocado

pelo remorso, do que as longas orações que se façam por mero

formalismo ou em atendimento a hábitos convencionais, mas em

que o sentimento não intervenha.

Bom é que desfaçamos, por último, o equívoco muito corrente

de que as orações possuam o mérito de expiar pecados e que, para

purificar-nos de nossas culpas, bastam uns tantos “pai nossos”

etc.
, balbuciados à guisa de penitência.

As orações não têm, nem poderiam ter tal eficácia, porque

infirmariam os princípios da Justiça Divina, segundo os quais cada

um deve colher os frutos de sua própria semeadura.

O Espiritismo elucida-nos que, conquanto não possa mudar os

desígnios de Deus, a prece tem, todavia, enormíssimo valor,

quando feita com fé, pois atrai a assistência dos bons Espíritos

(santos, anjos ou que outras denominações queiramos dar-lhes),

os quais podem infundir-nos um suprimento de coragem para

enfrentarmos, com denodo, os obstáculos que surjam em nosso

caminho, ou então sugerir-nos boas ideias, em forma de intuição,

sobre como sairmos, por nós mesmos, das dificuldades que nos

assoberbam.
Ela pode dar-nos, também, a paciência necessária

para suportarmos, resignadamente, as expiações por que tenhamos

de passar, em consequência de nossos erros desta ou de

existências pretéritas.

Assim compreendida, a prece é sempre benéfica, jamais fica

sem resposta, e constitui o melhor recurso de que os cristãos

devem valer-se quando sintam que a vida se lhes torna um fardo

pesado demais para as suas forças.

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