É comum reclamarmos do sofrimento ou das dores que nos atingem.
Porém, por vezes, tais condições são provocadas por nós mesmos.
Reagimos muito mal a fatos insignificantes e levamos as coisas para o lado pessoal.
Isso nos provoca irritação no dia a dia, que pode se acumular, chegando a representar uma importante fonte de sofrimento.
Conta-se que dois amigos foram a um restaurante para jantar.
Eles não tinham nada importante para fazer em seguida.
Podiam comer com calma, conversar, demorar-se o quanto desejassem.
Nenhum compromisso os aguardava.
A noite poderia ser encerrada a hora que desejassem.
Com esse espírito é que fizeram seu pedido e esperaram que os pratos solicitados chegassem.
O serviço do restaurante acabou por se revelar extremamente lento.
Um deles começou a reclamar.
Reclamou da demora em chegarem à mesa os seus pedidos.
Depois reclamou da comida, da louça, dos talheres e de todos os detalhes que descobriu não lhe agradarem.
Ao final da refeição, o garçom chegou e ofereceu duas sobremesas, a título de cortesia.
É como um pedido de desculpas pela demora do serviço.
– Explicou, gentil.
Estamos com falta de pessoal, hoje.
Houve um falecimento na família de um dos cozinheiros, e ele não veio trabalhar.
Além disso, um dos auxiliares avisou que estava doente, na última hora.
Espero que a demora não lhes tenha causado nenhum aborrecimento.
Enquanto o garçom se afastava, o amigo ainda resmungando, deixou escapar o seu descontentamento:
Nunca mais vou voltar neste restaurante.
Este é um pequeno exemplo de como contribuímos para nosso próprio sofrimento.
Levando a questão para o lado pessoal, como se tudo fosse feito de propósito contra nós; imaginando que as pessoas e o mundo giram em torno de nós, nos tornamos infelizes.
Importante termos sensibilidade para perceber o entorno, dificuldades que se apresentam, à revelia mesmo de quem deva nos atender, nos servir.
Essa refeição, com certeza, foi desagradável para ambos.
E com grandes possibilidades de, por causa da irritação, a comida ingerida lhes fazer mal e terem problemas de saúde.
Além, é claro, do aborrecimento, do desconforto, ante tanta reclamação.
E tudo podia ter sido resolvido com um pouco de paciência e tolerância.
Como nenhum compromisso os aguardasse, poderiam ter usufruído daquele tempo para conversar um pouco mais.
Afinal, com a vida tão corrida, com tantos compromissos sempre nos aguardando, uma oportunidade dessas, deveria ter sido muito bem aproveitada.
* * *
Jacques Lusseyran, cego desde os oito anos de idade, foi fundador de um grupo de resistência na Segunda Guerra Mundial.
Foi capturado pelos alemães e encarcerado em um campo de concentração.
Mais tarde, quando relatou as suas experiências no campo de prisioneiros, afirmou:
Percebi que a infelicidade chega a cada um de nós porque acreditamos ser o centro do Universo.
Porque temos a triste convicção de que só nós sofremos de forma insuportável.
A infelicidade é sempre se sentir cativo na própria pele, no próprio cérebro.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita, com base no
livro A arte da felicidade, de Dalai Lama e
Howard Cutler, ed.
Martins Fontes.
Em 27.
1.
2023.
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