“Qual de vós porventura é o homem que, se seu filho lhe pedir
pão, lhe dará uma pedra? Ou se lhe pedir um peixe, lhe dará uma
serpente? Pois se vós outros, sendo maus, sabeis dar boas dádivas
a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celestial dará bens aos que
lhos pedirem?” (Mateus, 7:9 a 11.
)
Não se conhece na Terra amor maior que o dos pais pelos
filhos.
Sejam eles desobedientes, estroinas ou facínoras, tenham os
defeitos que tiverem, nem por isso seus progenitores os renegam
ou deixam de estimá-los.
Não raro, esses filhos abandonam o lar, para se entregarem a
toda sorte de aventuras, ou então cobrem a família de vergonha
com seus desatinos, mas, ainda assim, embora de alma opressa e
coração traumatizado pela dor, os pais não cessam de abençoá-los
nem se cansam de auxiliá-los, por todos os meios ao seu alcance,
esperançosos de que, mais dia menos dia, tomem juízo, emendemse
e retornem ao bom caminho.
Malgrado eles próprios estejam longe de serem modelos de
virtude e de bondade, conquanto se ressintam também de
clamorosas falhas de caráter, isso não obsta a que façam todos os
sacrifícios imagináveis para o bem daqueles a quem deram o ser,
tão grande é a força e tão maravilhosas são as faculdades do amor
paternal.
Nenhum homem — di-lo Jesus — seria capaz de trair a
confiança que sua condição de pai inspira ao filho, e, pois, quando
este lhe peça um pão ou um peixe com que saciar a fome, de forma
alguma irá dar-lhe, em substituição, uma pedra ou uma serpente.
Isto seria uma aberração dos sentimentos que, por natureza, se
encontram até nos reprodutores infra-humanos.
Pois bem: se nós, homens, com todas as nossas imperfeições,
sabemos dar boas dádivas aos nossos filhos, se fazemos depender
a nossa alegria de suas alegrias, e a nossa felicidade da felicidade
deles, que dizer de Deus, nosso Pai celestial? Quanto maior não
será a sua solicitude, o seu desvelo, a sua ternura para conosco?
Não se infira daí, entretanto, que, por muito nos amar, Deus
deve satisfazer a todos os nossos caprichos e vontades, como o
fazem certos pais insensatos que, a pretexto de não criar
complexos em seus filhos, entendem ser de boa praxe deixarem
que deem livre expansão aos seus instintos e más tendências
inatas, quando seu dever fora precisamente o contrário: dominar
esses instintos, sofrear essas más tendências, e, com pulso firme,
imprimir-lhes uma nova direção nesta nova oportunidade que a
reencarnação lhes propicia.
Absolutamente não! Porque muito nos ama, agindo
inteligentemente, como nenhum pai humano saberia fazê-lo, Deus
só nos concede aquilo que seja útil ao aprimoramento de nosso
espírito, à nossa evolução, recusando-nos tudo quanto possa
acarretar sérios danos a nós e a outrem.
Às vezes, para que ganhemos experiência, cede às nossas
rogativas e nos enseja a posse de algo para cuja utilização não
estamos ainda suficientemente preparados.
Os dissabores e
decepções que, em tais circunstâncias, viermos a sofrer, ser-nosão
proveitosos, pois farão que nos tornemos mais ponderados.
Via de regra, porém, o Pai celestial deixa de ouvir as nossas
súplicas quando aquilo que pedimos, em vez de ser um benefício,
venha a constituir-se uma pedra de tropeço em nosso destino, para
dar-nos coisas mui diversas, geralmente recebidas a contragosto,
quais sejam: doenças, pobreza, dificuldades etc.
, por ser isso,
exatamente, o que mais convém aos nossos espíritos insipientes,
para que progridam e se ponham em condições de, no futuro,
conhecer outros gozos mais puros e mais duradouros que não os
grosseiros e efêmeros prazeres da matéria.