“Tudo o que vós quereis que vos façam os homens, fazei-o
também vós a eles, porque esta é a lei e os profetas.
” (Mateus,
7:12.
)
Conhecedor profundo da alma humana, sabia o Mestre que a
preocupação constante dos homens de seu tempo (como ainda dos
de hoje) consistia em receber, do meio social a que pertenciam, o
máximo possível em gozo e em posse, sinal característico do forte
egoísmo que os dominava.
Tomando, pois, esse amor de cada um a si mesmo, como padrão
dos nossos deveres para com o próximo, estabeleceu Ele o meio
mais fácil e mais seguro pelo qual haveremos de compreender o
que e quanto devemos dar, em obediência à lei do amor universal
que nos cumpre desenvolver, a fim de que se estabeleça em nosso
mundo o reinado de Deus.
Em nossas múltiplas relações com os outros, coloquemo-nos
em seu lugar: identifiquemo-nos com os seus sentimentos,
sintamos-lhes as dificuldades, conheçamos- lhes os anseios, e,
depois, façamos-lhes como, invertendo-se os papéis, desejaríamos
que eles procedessem conosco.
Não há melhor estalão com que aferir a nossa honestidade, nem
expressão mais legítima do “amor ao próximo como a nós
mesmos”.
Esta regra áurea, se praticada por todos, faria que se
modificassem completamente as condições de vida de nosso
planeta.
Extinguir-se-iam, uma a uma, todas as causas de
sofrimento da Humanidade; desobstruir-se-ia o caminho dos
pedrouços que lhe embaraçam o progresso moral e, ao cabo de
algum tempo, a felicidade seria geral, porque já então, morto o
egoísmo em todas as suas formas: o egoísmo pessoal, de família,
de casta e de nacionalidade, veríamos implantado entre os
terrícolas o primado da abnegação, da caridade, do
desprendimento, da justiça, da paciência, da tolerância, da
solidariedade, da paz etc.
, porque as grandes e nobres virtudes,
sem exceção, são, todas elas, filhas do Amor.
Dizendo-nos que “esta é a lei e os profetas”, quis Jesus
significar que esta regra de proceder resume toda a Lei Divina e
tudo quanto fora ensinado pelos profetas da Antiguidade.
O “fazei aos outros o que quereis que os outros vos façam”
contém a mesma verdade deste outro ensinamento doutrinado
algures no Sermão da Montanha: “com a medida com que
medirdes, também sereis medidos”.
É a lei da causalidade.
A toda
causa corresponde um efeito, o qual será sempre da mesma
natureza da causa que o originou.
Aquilo que fizermos aos outros, seja bem ou seja mal, terá,
certamente, sua reação sobre nós, em bênçãos ou em sofrimento.
Tudo quanto dermos, havemos de receber de volta.
Os benefícios
que fizermos ao próximo são-nos retribuídos em dobro, aqui
mesmo na Terra, em tempos de necessidade, ou no Além, na
moeda do Reino, em alegrias espirituais.
Da mesma sorte, o mal praticado a dano de outrem volve
também.
Todos os atos maléficos dão origem a sofrimentos para
quem os cometeu, o qual, nesta ou em futuras encarnações, será
levado a passar pelas amarguras por que fez outros passarem;
sentirá aquilo que eles sofreram.
E isso, que a alguns pode parecer uma negação do amor de
Deus para conosco, é, ao contrário, a mais solene afirmação de seu
amor paternal, pois Ele quer que todas as criaturas progridam,
combatam a dureza de coração e se transformem em templos
vivos, para aí fazer sentir sua augusta presença.
Os sofrimentos que decorrem das transgressões às Leis Divinas
servem-nos de advertência; fazem-nos sentir a diferença entre o
bem e o mal e dão-nos a experiência de que colheremos segundo
o que plantarmos.
Se semearmos o bem, colheremos o bem; se
espalharmos o mal, teremos de lhe arcar com as funestas
consequências.
Assim não fora e, confiantes na impunidade, retardaríamos
nosso avanço, retardando, consequentemente, nossa felicidade
futura na santa comunhão com Deus.
A regra áurea é a única e verdadeira norma de Cristianismo.
Assim, uma religião que nos leve a negligenciar as obras de
misericórdia em favor dos necessitados, dos aflitos e dos
sofredores, ensinando ser suficiente “crer” deste ou daquele modo
para fazermos jus aos gozos celestiais; que nos induza a considerar
réprobos desprezíveis todos quantos divirjam de nossa “fé”; que
advogue a discriminação racial ou qualquer outra forma de
desunião entre os homens, exaltando uns e menosprezando outros,
está defraudando a doutrina cristã, é espúria e blasfema, pois
pretende impingir concepções e preconceitos humanos como
ordenações de Deus.