Ao concluir os ensinamentos do maravilhoso Sermão da
Montanha, empregou Jesus a seguinte ilustração:
“Todo aquele que ouve estas minhas palavras, e as observa,
será comparado a um homem prudente, que edificou a sua casa
sobre a rocha.
Veio a chuva, transbordaram os rios, sopraram os
ventos, e combateram aquela casa, e ela não caiu, porque estava
fundada sobre a rocha.
E todo aquele que ouve estas minhas palavras, mas não as
observa, se assemelha a um homem insensato, que construiu sua
casa na areia.
Quando a chuva caiu, os rios transbordaram, os
ventos sopraram e a vieram açoitar, ela foi derribada e grande
foi a sua ruína”.
(Mateus, 7:24 a 27.
)
Essa advertência do Mestre tinha endereço certo: buscava
penetrar a consciência dos que o ouviam; tocá-los, despertá-los e
fazê-los sentir a necessidade de uma reforma de seus hábitos, pois
sabia que, trabalhados gerações pós gerações pelo farisaísmo, se
haviam esquecido do Decálogo que lhes fora dado no Sinai, tendose
acostumado a observar tão somente umas tantas práticas e
cerimônias exteriores, persuadidos de que isso era o bastante para
torná-los irrepreensíveis aos olhos do Senhor.
Ainda hoje, infelizmente, muitos existem, em todas as
organizações religiosas, que incidem no mesmo erro.
Invertendo
a hierarquia dos valores, demonstram zelo extremado pelo que é
secundário, negligenciando por completo aquilo que é essencial.
Também entre os espíritas — forçoso é reconhecê-lo — é
grande, até agora, o número dos que se aferram às chamadas
“sessões práticas”, nem sempre bem conduzidas, e não saem
disso, esquecendo-se do estudo metódico e profundo da Doutrina,
em seu tríplice aspecto: científico, filosófico e religioso, a fim de,
com esse preparo, poderem auxiliar, eficazmente, tanto os
desencarnados, nos trabalhos de esclarecimento e desobsessão,
como os encarnados que careçam de melhor orientação na vida.
Outro engano comum a muitos que se têm na conta de cristãos,
é o suporem que a memorização das Escrituras, o conhecimento
teórico de princípios religiosos corretos ou a concordância com
certos dogmas teológicos seja suficiente para a salvação de suas
almas.
O mero assentimento intelectual à Verdade, entretanto, não
constitui, por si só, mérito algum e será de todo inútil se não fizer
que os homens produzam frutos de bondade e justiça no trato com
os semelhantes.
Aliás, sabem-no todos, os crimes mais abomináveis que
enegrecem as páginas da História foram praticados por criaturas
que se vangloriavam de ser oráculos da Divindade, como há, ainda
nos dias que correm, não poucos representantes da pretendida
ortodoxia religiosa, cujos atos são de estarrecer.
Jesus veio revelar-nos que a Religião pura e genuína consiste,
não apenas em satisfazer a formalismos cultuais, mas em cumprir
os mandamentos da Lei, o que exige de um esforço constante no
sentido de vencer suas imperfeições e, ao mesmo tempo, em
desenvolver aquelas virtudes que o levem a “amar a Deus sobre
todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.
Então, semelhantemente ao homem sábio que edificou sua casa
sobre a rocha, tomemos os preceitos divinos expostos pelo Mestre
como fundamento de nossa norma de vida, e não simplesmente de
nosso credo.
Sim, porque aqueles que pregam e ensinam tais preceitos, mas
não testemunham aquilo que pregam e ensinam, assim os que
confiam na eficácia dos sacramentos de sua igreja, mas não tratam
de modelar seu caráter pelo do excelso modelo — o Cristo, estão
construindo sobre a areia e, portanto, a si mesmos se reservam
grandes amarguras e terríveis desilusões.