Na obra A República, do filósofo Platão, encontramos uma interessante narrativa.
Trata-se de um guerreiro, chamado Er, morto em batalha.
Dez dias depois, ele retorna à vida e relata sua experiência no mundo além da morte.
Conta como as almas são julgadas e encaminhadas a diferentes destinos após sua existência na Terra.
As almas virtuosas são recompensadas com uma vida de felicidade e as más são punidas com sofrimento.
Descreve, ainda, o que seria o ciclo de reencarnações das almas, onde cada uma escolheria uma nova vida com base nas suas ações e escolhas passadas.
A descrição é bastante detalhada, citando, inclusive, o processo de beber das águas do rio Léthe, o rio do esquecimento.
Antes de renascer, cada alma deveria beber um tanto de água, perdendo mais ou menos a memória de suas vidas anteriores.
Essa narrativa, registrada pelo fiel discípulo de Sócrates, data de trezentos e oitenta anos antes da Era Cristã, no coração da Grécia.
Os mitos eram fábulas, histórias, parábolas, utilizadas pelos povos gregos para explicar fatos e fenômenos da natureza.
O mito de Er apresenta conhecimentos importantes e destacamos a visão de Sócrates e Platão sobre a imortalidade da alma e a pluralidade das existências.
No século XIX, o Espiritismo fala dessas realidades e estuda o processo do esquecimento do passado, mostrando como tal fenômeno se faz importante para o ser, principalmente no estado evolutivo em que nos encontramos.
Alguns nos perguntamos por que precisamos perder a lembrança do passado.
Não seria melhor que lembrássemos exatamente de quem fomos e do que fizemos?
A Sabedoria Divina estabeleceu, no entanto que o homem não pode e nem deve saber de tudo.
Sem o véu do esquecimento, que lhe encobre certas coisas, o homem ficaria ofuscado como aquele que passa sem transição da obscuridade para a luz.
Pelo esquecimento do passado, ele é mais ele mesmo.
Precisamos esquecer muitas coisas para que o processo de renovação se faça mais exitoso.
Não teríamos estrutura emocional para recordar de muitos acontecimentos, e tais lembranças vivas colocariam a perder a valiosa chance da nova encarnação.
Se mesmo sem recordarmos com clareza, tal passado já nos influencia e, por vezes, promove distúrbios de difícil tratamento, imaginemos ter recordações claras como a do dia anterior.
Reconheçamos, portanto, a Sabedoria de Deus ao nos bloquear as lembranças.
Confiemos.
É melhor que seja assim.
Beber do rio do esquecimento nos proporciona começar de novo, sem permitir que os fantasmas do passado tenham domínio sobre nós.
Beber das águas do rio Léthe é parte da sabedoria e bondade das leis divinas, que nos fazem retornar à vida corpórea com aspecto de primeira vida, de vida nova.
É a nova chance que nos permite crescer, fazer melhores escolhas, realizar ajustes nas relações, e, principalmente, perdoarmo-nos pelos desatinos cometidos no passado.
A cada nova existência o homem aprimora sua inteligência e pode melhor distinguir o bem do mal.
Aproveitemos mais esta grandiosa oportunidade que nos foi dada.
Redação do Momento Espírita, com base na
pt.
2, cap.
VII, q.
392 de O livro dos Espíritos,
de Allan Kardec, ed.
FEB.
Em 26.
9.
2023.