O ARGUEIRO E A TRAVE – Rodolfo Calligaris – O Sermão da Montanha 5/5 (1)

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“Como é que vedes um argueiro no olho do vosso irmão,

quando não vedes uma trave no vosso olho? Ou, como é que dizeis

a vosso irmão: deixa-me tirar um argueiro do teu olho, vós que

tendes no vosso uma trave? Hipócritas, tirai primeiro a trave do

vosso olho e depois, então, vede como podereis tirar o argueiro

do olho do vosso irmão.
” (Mateus, 7:3 a 5.
)

É assim mesmo.

Quase todos nós somos muito sagazes em discernir defeitos nos

outros, mas raramente nos apercebemos dos nossos.

Acontece ainda, muitas vezes, que a pequena imperfeição de

nosso próximo assemelha-se a uma palhinha ou cisco

insignificante, enquanto a nossa, relativamente, pode ser

comparada a uma viga ou tronco de árvore.
No entanto, com que

presteza e facilidade enxergamos o argueiro no olho de outrem, e

com que disfarces tentamos ocultar a trave que nos tapa a visão!

Segundo o símbolo utilizado pelo Mestre, sempre que, movidos

pelo espírito de crítica, ousamos condenar um irmão, tornamo-nos

mais culpados que ele, eis que nossa acusação revela falta de

tolerância, forte orgulho e acentuada propensão para o farisaísmo.

Tivéssemos um caráter reto, um coração piedoso, e não nos

comprazeríamos em ressaltar os aspectos negativos do

comportamento de nossos semelhantes, o que, sobre ser um gesto

antifraterno, põe a nu nossa presunção de fazer-nos passar por

inatacáveis, quando, em verdade, um bom exame de consciência

nos acusaria das mesmas falhas que censuramos e talvez de outras

ainda mais graves.

Manda a ética cristã que sejamos comedidos no julgamento das

obras alheias, usando de severidade apenas ao julgarmos as

nossas.

Quando comparecermos ante o tribunal divino, finda nossa

romagem terrena, de que nos aproveitará havermos cuidado dos

outros, se nos esquecemos de cuidar de nós próprios, deixando

que nossa existência se consumisse sem proveito para nossa alma,

sem realizar o menor progresso no sentido espiritual?

Na apóstrofe: “Hipócritas, tirai primeiro a trave do vosso olho

e depois, então, vede como podereis tirar o argueiro do olho do

vosso irmão”, Jesus dá-nos a entender que é preciso ser bom para

fazer o bem e que cada um de nós só poderá auxiliar eficazmente

os semelhantes, na medida dos recursos que possua.
Ninguém

pode dar o que não tem.

Assim, se desejarmos corrigir determinado defeito de alguém,

é preciso que sejamos perfeitos, pelo menos nesse ponto,

porquanto os conselhos e advertências que possamos oferecer,

embora adequados e oportunos, não surtirão nenhum efeito, não

exercerão nenhuma influência edificante, se não tiverem a

valorizá-los a força moral do exemplo correspondente.

Essa lição evangélica é válida para todos, especialmente para

os pais.

Como poderão eles reprimir os vícios, os desregramentos e os

maus hábitos dos filhos, se são os primeiros a escandalizá-los com

as falhas clamorosas de sua conduta?

Dizer-lhes que não devem fumar, beber nem jogar, que devem

ser recatados, honestos, leais, verdadeiros etc.
, quando eles

próprios fumam, bebem, jogam, transigem com a indecência,

enganam-se um ao outro, falam mal das pessoas que compõem

seu círculo de amizades, mentem deslavadamente, violando, a

todo instante, as regras mais comezinhas do bom proceder, só

pode dar nisso que vemos por aí.

Esforcemo-nos, pois, por conduzir-nos na vida, tendo por

norma os preceitos cristãos, para que, transformados, possamos,

de fato, fazer algo em favor da regeneração de outras almas.

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